sexta-feira, 3 de agosto de 2012


Até abraçar desaprendemos. Ninguém mais abraça com vontade. Com sinceridade de velório. Odeio abraço falso, como aquele beijo de frígida, no qual a face bate na face e os lábios se transformam em beiço. Abraço tem que ter pegada, jeito, curva. Aperto suave, que pode virar colo. Alento tenso, que pode virar despedida. É pelo abraço que testo o caráter do outro. Não confio em quem logo dá tapinhas nas costas. A rapidez dos toques indica a maldade da criatura. Não sou porta para bater. Nem madeira para espantar azar. Abraço com toquinho é hipócrita. É abraço de Judas. De traidor. O sujeito mal encosta a pele e quer se afastar. Pede espaço porque não suporta os pecados dos pensamentos.Devemos fechar os olhos no abraço, respirar a roupa do abraçado, descobrir o perfume e a demora no banho. Abraço não pode ser rápido senão é empurrão. Requer cruzamento dos braços e uma demora do rosto no linho. Abraço é para atravessar o nosso corpo. Ir para a margem oposta. Nadar para ilha e subir ao topo da pedra pela gratidão de sopro. Sou adepto a inventar abraços. Criar abraços. Inaugurar abraços. Realizar um dicionário de abraços. Um idioma de abraços. O meu é o de cadeira de balanço. Giro nas pontas dos pés. Não largo, os primeiros minutos são para sufocar, os demais servem para o enlaçado se recuperar do susto. Não entendo onde terminará o abraço. Se a pessoa vai chorar ou vai rir. Abraço é confissão. Dez minutinhos de sol e de liberdade.

Fabrício Carpinejar